União de Jovens e Adolescentes Cristãos
"E sede cumpridores da Palavra e não somente ouvintes (...)"
Tiago 1.22a

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Evangelhos Sin... O quê?

   Evangelhos Sinóticos! Este é o assunto da vez. A palavra “sinóticos” significa “visões paralelas”. Quando falamos dos Evangelhos Sinóticos estamos falando dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Eles são chamados de “sinóticos” porque são bastante parecidos em conteúdo, embora a mensagem central de cada um seja diferente. O Evangelho de João ficou fora deste grupo por ser bastante diferente em conteúdo dos outros três. Mas antes de falarmos com mais detalhes sobre cada livro, vamos conhecer um pouco mais da história que cerca a todos eles.

Um pouco de história

   Após a ascensão de Jesus, por volta do ano 30 d.C., os discípulos, conduzidos pelos apóstolos, assumiram o compromisso de anunciar a mensagem de salvação ao mundo. Era uma tarefa difícil já que a religião judaica era muito forte e o império romano afogava qualquer movimento que pudesse se tornar uma ameaça para ele.
   Mas, apesar das dificuldades, os discípulos pouco a pouco fundavam comunidades nas regiões próximas da Judeia, começando por Jerusalém, depois indo para Samaria, Galileia e mais tarde para a Síria, Grécia, Ásia (na região da atual Turquia) e Itália. Se você quiser conhecer mais desta história, o livro dos Atos dos Apóstolos apresenta como o cristianismo se espalhou rápido nos primeiros anos.
   O apóstolo Paulo, ex-perseguidor de cristãos, teve um papel muito importante nessa história. Foi um missionário dedicado que fundou comunidades cristãs principalmente fora de Israel fazendo com que a mensagem de Jesus se espalhasse pelo mundo. Paulo escrevia cartas para estas comunidades a fim de orientá-las sobre como resolver seus problemas da vida cristã diária e de interpretação das Escrituras.
   Em suas cartas, frequentemente, aparece o termo “evangelho” como o conteúdo da sua pregação, ou seja, a mensagem de salvação em Jesus Cristo. Esta palavra originalmente significava a gorjeta que se dava ao mensageiro portador de uma notícia. Se a notícia era boa, a gorjeta era maior. Mais tarde, passou a significar a própria boa notícia.
   Uma característica do evangelho que Paulo anunciava era a ausência de episódios envolvendo o Jesus nazareno, presente entre os homens e mulheres que, com seus gestos, ações e palavras, revelava a misericórdia de Deus para a humanidade. A mensagem que Paulo anunciava se concentrava muito na visão de um Cristo que havia ressuscitado e que habitava com Deus no céu.
   Por outro lado, nas diversas comunidades recém-fundadas circulavam memórias de Jesus no seu dia-a-dia e no seu convívio com os discípulos, como seus discursos, suas parábolas e histórias de milagres. Tudo indica que também havia músicas e textos doutrinários que lembravam o nascimento, a morte e a ressurreição de Jesus.
   Antes que as memórias se perdessem ou fossem contaminadas por ideias que nada tinham a ver com a mensagem da salvação, alguns homens se comprometeram a registrar na forma de textos as memórias do Jesus humano que habitou entre nós. Era importante resgatar a imagem do Deus que se fez homem para que as comunidades entendessem como viver de maneira justa a partir do modelo Jesus Cristo. É neste contexto que encontramos os “Evangelhos”.

O Evangelho de Marcos

   A primeira obra literária a registrar eventos da vida de Jesus foi o Evangelho de Marcos, mesmo ocupando a segunda posição na lista dos livros do Novo Testamento.
   Este Evangelho foi escrito com uma finalidade precisa: responder à pergunta “quem é Jesus?” A partir de textos construídos com simplicidade, o autor não desenvolve teorias e doutrinas. Apenas registra o que Jesus fez. Seu objetivo era que o leitor chegasse sozinho à conclusão de que Jesus era o Messias, o Filho de Deus.
   Originalmente, era um texto anônimo. Somente mais tarde, por volta de 135 d.C., um homem chamado Papias, um líder da igreja, estudando a tradição cristã, disse que o autor seria João Marcos e o texto recebeu o título que temos hoje. Provavelmente, o livro foi escrito entre 65 e 70 d.C. – quase 35 anos depois da ressurreição de Jesus.
   Com o Evangelho de Marcos, a palavra “evangelho” assume novo sentido. Além de se referir ao conteúdo da mensagem, agora passava a representar um estilo literário novo que influenciou significativamente a história da igreja cristã.

Os Evangelhos de Mateus e de Lucas

   Depois que o Evangelho de Marcos ficou pronto, outros autores também se motivaram a escrever Evangelhos incluindo pontos de vista pessoais e fatos que não foram incluídos por Marcos. Naturalmente, usaram o primeiro Evangelho como fonte de informações e também consideraram outras fontes disponíveis, como testemunhos de pessoas, alguns documentos e o que mais acharam útil.
   O segundo Evangelho a ser escrito, por volta do ano 80 d.C., foi o Evangelho de Mateus atribuído ao apóstolo Mateus, o antigo cobrador de impostos também chamado Levi. É, sem dúvida, o mais didático (por isso, foi colocado em primeiro lugar) e tem dois objetivos claros: mostrar que Jesus é o “Emanuel”, o Deus conosco que inaugura o reino de Deus, e provar que Jesus é aquele que atende toda a expectativa gerada no Antigo Testamento.
   Sobre o reino de Deus, Mateus destaca que seus valores são completamente opostos aos valores do mundo e o modelo de homem justo a ser seguido é Jesus.
   O terceiro Evangelho a ser escrito, o Evangelho de Lucas, é cheio de detalhes e tem por objetivo mostrar que o projeto de salvação que Deus preparou para o homem acontece na história humana. Não é um evento para o além. O livro enfatiza a realidade dos mais humildes como alvo da graça de Deus em oposição à opressão causada pelos mais poderosos.
   Foi escrito entre 80 e 85 d.C. e o autor, ao que tudo indica, foi o mesmo do livro de Atos dos Apóstolos. A tradição atribuiu a autoria a Lucas, um médico companheiro de Paulo. Ele não era um apóstolo e, provavelmente, nem conheceu Jesus pessoalmente, mas destaca que fez um cuidadoso estudo de tudo o que aconteceu. O destinatário é um amigo seu chamado Teófilo, provavelmente um não-judeu convertido ao cristianismo.

O Evangelho de João e outros Evangelhos

   O Evangelho de João foi o último a ser escrito (entre 95-100 d.C.). Parece que o autor deste Evangelho se baseou em fontes totalmente distintas dos três anteriores compondo uma obra bastante particular. Considerando as cenas em que as histórias se passam e os discursos de Jesus, ele é muito diferente dos outros três. Por isso, não faz parte do grupo dos Evangelhos Sinóticos.
   Seu objetivo é mostrar que Jesus é Deus e é o Cordeiro perfeito que tira o pecado do mundo. Tudo para combater o movimento gnóstico que estava contaminando a doutrina da igreja daquele tempo dizendo que Jesus não podia ser Deus por ter natureza humana.
   Posteriormente, outros Evangelhos surgiram e supostamente contariam trechos da vida de Jesus. Mas nenhum deles foi considerado inspirado. Talvez, você já tenha ouvido falar em Evangelho de Maria Madalena e Evangelho de Judas. Eles fazem parte de um conjunto de textos chamados “apócrifos”. Muitos deles contêm histórias fantasiosas sobre Jesus e tentam influenciar o leitor com conceitos errados sobre Jesus.

Algumas dicas para ler e estudar os Sinóticos

   Para finalizar, aqui vão algumas dicas para que você consiga estudar os Evangelhos com mais profundidade: Inicialmente, conheça cada livro individualmente. Tente identificar a sequência de ideias do autor. Com que objetivo ele estaria escrevendo aquele livro? Para qual público? Como isso influencia a mensagem e o texto? Como Jesus é apresentado? Qual a relação entre o Jesus apresentado e a sequência de mensagens do livro?
   Agora que você já conhece cada Evangelho, tente cruzar as informações. Quais as semelhanças? E as diferenças? Como as informações se completam? Concordam em todos os pontos? Lembre que os textos foram escritos para um público cerca de 2.000 atrás. Teremos grande dificuldade de entender alguns aspectos culturais e textuais. Isso é natural, mas não impede que estudemos a Bíblia.
   Podemos dizer que o nosso objetivo é reinterpretar os princípios da mensagem para o nosso tempo. Isso já é um grande desafio! Chamamos isso de “releitura”. Embora naquele tempo não houvesse internet, cinema, shopping centers, os problemas do homem são todos parecidos independentemente da época.
   Sempre leve em conta os textos ao redor dos versículos que você considerar importantes. Evite criar regras com apenas um versículo. Conhecer o contexto é fundamental. A pergunta que devemos responder é: “O que este versículo quer dizer no meio desse texto todo?” Lembro-me bem das palavras da professora nas aulas da EBD quando era adolescente na Segunda Igreja Batista do Rio de Janeiro: “texto sem contexto é pretexto para confusão”.
Isso vale para tudo na vida!
   Sempre que tiver dúvidas, pergunte ao seu professor da EBD ou ao pastor. Eles podem ajudar bastante. Seguindo estas dicas, você terá o seu caminho como estudante da Bíblia bastante facilitado. Agora, chega de conversa e mãos à obra!
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Jakler Nichele Nunes
professor na EBD de jovens
da Igreja Batista Itacuruçá

(Texto retirado da revista Diálogo e Ação)

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